Em Turim, a Igreja Católica vela o pano que cobriu o corpo de Jesus Cristo, quando retirado da cruz. Nele há uma figura que seria o corpo estampado com o sangue do filho de Deus. Neste abril, um estudo mostrou a sombra de uma segunda imagem da face de um homem na parte de trás do lençol, de acordo com relatório publicado pelo Instituto de Física de Londres. Esta parte estava sob um pedaço de pano costurado por freiras em 1534, depois que ele foi danificado por fogo. Mas foi exposta em 2002, durante projeto de restauração, coordenado pelo professor Giulio Fanti, da Universidade de Pádua, na Itália. Ele diz que ter visto uma imagem em fotografias do manto, com "características como nariz, olhos, barba e bigode" claramente visíveis e algumas leves diferenças em relação ao rosto conhecido. Por exemplo, o nariz, na parte de trás, "mostra ambas as narinas, ao contrário da parte da frente, em que a narina direita é menos evidente".
Em 1988, cientistas de três universidades concluíram, através do isótopo de carbono 14, que o tecido havia sido produzido entre 1260 e 1390, muito tempo após a data atribuída à morte de Jesus. O Cardeal de Turim, Anastasio Alberto Ballestrero, admitiu que o manto era falso. Mas, como escreveu Umberto Eco, no seu "Baudolino", as relíquias "são de origem duvidosa, mas o fiel que vai beijá-las sente a emanação de aromas sobrenaturais. É a fé que as faz verdadeiras, não são elas que fazem verdadeira a fé". Em Brasília, por exemplo, folhetos turísticos indicam que a cruz metálica no topo da catedral da Capital Federal, abençoada pelo papa Paulo VI, contém uma lasca daquela em que Jesus foi crucificado.
Em 1977 foi criado, nos Estados Unidos, o Shroud of Turin Research Project (Projeto de Pesquisa do Manto de Turim), formado por 39 cristãos e um agnóstico: Walter C. McCrone, único microscopista especializado em química forense da equipe. Quando McCrone encontrou evidência de têmpera baseada em ocre vermelho com aglutinante de colágeno e afirmou que o manto era uma pintura, foi expulso do grupo...
Os defensores da autenticidade do pano recorrem à exatidão anatômica e das evidências de torturas que a figura apresenta. Mas são argumentos difíceis de comprovar. Por exemplo, a imagem do pano apresenta o cabelo, o bigode e a barba brancos, o que não combina com as representações de um Jesus morto aos 33 anos. Além do mais, a imagem do sudário somente seria um negativo se, deixando de lado as manchas de sangue, representassem uma estátua ou um baixo relevo que só apresentasse uma única cor tanto para a pele como para o cabelo e a barba.
Outro detalhe incongruente: as imagens de sangue que aparecem no rosto e no corpo do sudário. Quando alguém recebe um corte no crânio, o sangue empapa o cabelo e um pano em contato com esse crânio ficará com manchas de sangue. Mas os cabelos no sudário estão pintados com fios de sangue bem definidos. As manchas de sangue seco se tornam marrons escuras com o tempo, mas no sudário estão vermelhas e formadas, segundo McCrone, por partículas de óxido de ferro (ocre vermelho) e cristais de cinábrio (vermelhão).
No rosto do sudário, os cabelos caem para os lados da cabeça em direção aos ombros, o que é incompatível com a posição de um corpo deitado, pois os cabelos cairiam para trás da cabeça. Os braços, por sua vez, estão semiflexionados, para que as mãos ocultem os genitais, mas os ombros são representados como se estivessem encostados no solo. Com isso, os braços ficam desproporcionalmente longos, como os de símios — foi a forma que o pintor encontrou para não deixar exposto o pênis.
Outra impossibilidade semelhante à das mãos sobre os genitais ocorre com os pés. As pernas estão retas, mas a planta dos pés é representada em contato com o solo. Os joelhos deveriam estar flexionados para permitir sua impressão.
Mas talvez a incoerência mais grave seja o aspecto pictórico da imagem. Uma figura envolta em um pano deixaria uma marca de contato deformada em relação ao modelo real. As orelhas apareceriam vistas de lado no pano. Algo semelhante aconteceria com qualquer característica facial. A ausência desta deformação indica que o manto não teve contacto com um cadáver, mas que foi pintado para que parecesse com as representações tradicionais de Jesus.
Conforme afirma Hernán Toro, docente do Centro de Ciência Básica na Escola de Engenharia da Universidade Pontifícia Boliviana, autor do artigo "As anomalias ignoradas do 'sudário' de Turim", que embasou a parte analítica deste escrito, "a autenticidade do sudário não se sustenta ante uma simples análise lógica da imagem".